As reservas de ouro chinesas são subestimadas?

 Razões para crer que as reservas de ouro da China estão subestimadas 

Vamos começar com o ouro da Rússia. O gráfico mostra a acumulação do Banco Central Russo para o número atual de 2.300 toneladas – aproximadamente 74 milhões de onças (há 32.150 onças troy em uma tonelada de ouro). Isso faz da Rússia, pelo menos de acordo com números oficiais, o quinto maior detentor de ouro do mundo.

A tabela mostra os 10 maiores donos de ouro, também suas reservas cambiais e sua porcentagem de alocação para ouro. Os EUA têm a maioria – 8.133 toneladas – seguidos pela Alemanha, Itália, França e Rússia.
O país em que estamos nos concentrando hoje é o que está em sexto lugar na tabela, a China. Primeiro, considere as reservas internacionais da China – mais de três trilhões de dólares. Isso é mais do que o PIB anual do Reino Unido. Então considere suas reservas de ouro. A RPC tem 2.200 toneladas, o equivalente a ~5,5% de suas reservas cambiais. As reservas de ouro dos EUA equivalem a mais de 65% de suas reservas. E se a China chegasse a esse nível? Bem, o argumento é que a China tem muito mais ouro do que diz ter.
Há duas partes neste argumento. Primeiro, a mineração de ouro da China. Em 2007, a China ultrapassou a África do Sul como a maior produtora de ouro do mundo. Permaneceu assim desde então. Na última década (2010-2020), produziu cerca de 15% de todo o ouro extraído no mundo. Desde 2000, a China minerou mais de 7.000 toneladas. Mais da metade da produção de ouro chinesa é estatal – a China National Gold Group Corporation sozinha responde por 20%. E a China fica com o ouro que minera – a exportação da produção doméstica de minas não é permitida. Repito esse número: 7.000 toneladas. Já esse número oficial de 2.200 toneladas parece muito duvidoso. Com as reservas em declínio, as empresas de mineração chinesas também têm comprado ativos no exterior, na África, América do Sul e Ásia. A produção internacional excede a produção nacional da China – em cerca de 15 toneladas em 2020.

Segundo, há o fato de que, além de ser o maior produtor, a China é o maior importador do mundo. As importações de ouro via Suíça e Dubai nem sempre são declaradas, mas sabe-se que somente via Hong Kong, mais de 6.700 toneladas entraram no país desde 2000. Adicione isso à produção acumulada de ouro desde 2000 e você terá um número de mais de 14.000 toneladas. Seja importado, minerado ou reciclado, a maior parte do ouro que entra na China passa pela Shanghai Gold Exchange (SGE), incluindo o ouro importado de Hong Kong. Então, as retiradas da SGE — para as quais temos números — podem atuar como uma espécie de aproximação para a demanda. E é possível obter números para retiradas da SGE: desde 2008, quase 22.000 toneladas foram retiradas da SGE.

Então temos que adicionar o ouro mantido na China, seja como lingote ou joia antes de 2000. O World Gold Council estima um número de 2.500 toneladas em joias de propriedade privada. Somado à mineração doméstica e às reservas oficiais, você obtém um número de cerca de 4.000 toneladas. Junte tudo isso – produção acumulada, importações e estoque existente – e você chegará a um número não muito distante de 33.000 toneladas.

Nem todo ouro que entra na China é contabilizado por retiradas do SGE. O Banco Popular da China (PBC) gosta de comprar barras de 12,5 kg, que não são negociadas no SGE. O PBOC frequentemente usa dólares em bolsas em Londres, Dubai e Suíça, enquanto o SGE vende seu ouro em yuan. O exército chinês também possui ouro e não precisa declarar suas compras. E há outras agências estatais também: a Administração Estatal de Câmbio e a China Investment Corporation – o fundo soberano, por exemplo.

Quanto desse ouro é estatal? Alguns calculam 50%. A 50%, a implicação é que a China possui mais de 15.000 toneladas – quase o dobro dos EUA. Sejam dez, 15 ou 30.000 toneladas, não há como a China declarar tais grandes participações. Pelo menos ainda não – isso causaria um aumento indesejado tanto no yuan quanto no preço do ouro. Os US$3,2 trilhões em reservas cambiais em dólares do governo seriam desvalorizados. Além do mais, declarar tanto ouro seria um desafio direto à supremacia americana, para a qual a China provavelmente ainda não está pronta. Paridade primeiro, depois supremacia. Por enquanto, eles seguem a doutrina de Deng Xiaoping de "não devemos brilhar muito". Suas 2.200 toneladas declaradas são, talvez, o mínimo que poderiam declarar e parecer críveis.
Uma matéria analisando esse contexto. Com uma reserva oficial estimado em 2.264 toneladas (72.78 milhões onça troy), as reservas internacionais de ouro totalizam US$182 bilhões, o que representa atualmente 5,5% do total das reservas internacionais da RPC. O Banco Popular da China (PBOC) foi o maior comprador oficial de ouro em 2023, com compras líquidas de 7,23 milhões de onças, ou 224,9 toneladas métricas. Foi o maior ano único de adições relatadas do país desde pelo menos 1977. Há especulações bastante interessantes de que as reservas reais de ouro da China são muito maiores. A China passou anos sem anunciar reservas oficiais de ouro e os valores atualizados não refletem a produção e as importações de ouro no país. Um histórico sobre isso ao longo dos anos.

De acordo com o analista Jan Nieuwenhuijs, o PBC detém mais de 5.220 toneladas de ouro, o que o coloca logo atrás dos EUA em termos de reservas de ouro no ranking mundial. Isso também implica que é quase o dobro da quantidade de reservas de ouro do que as estimativas oficiais dizem. Nieuwenhuijs afirmou que o PBC adquire ouro por meio de bancos intermediários para levantar o mínimo de poeira possível e não afetar significativamente o crescimento do preço do ouro. A cada ano, uma parte do suprimento de ouro passa parcialmente despercebida, o que pode ser lido na diferença entre as estimativas setoriais oficiais do FMI sobre a demanda por ouro, que divergem dos dados verificados e fornecidos pela empresa de consultoria Metals Focus para fins dos relatórios oficiais do World Gold Council. De acordo com Nieuwenhuijs, fontes anônimas da indústria afirmam que 80% dessa diferença está relacionada à aquisição "secreta" dos bancos filiais mencionados.

De qualquer maneira, em 2015, a reserva cambial total da China tinha menos de 2% de ouro, já em 2024 esse percentual saltou para 5,5%, considerando as reservas oficiais. A percentagem de ouro nas reservas cambiais tem aumentado desde 2015 – uma tendência não impulsionada exclusivamente pela China e pela Rússia.

Outras fontes:
https://moneyweek.com/investments/commodities/gold/603131/how-much-gold-does-china-own
https://goldbroker.com/news/china-owns-lot-more-gold-than-its-letting-on-2281

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